Resiliência - por Cátia Pereira Garcia
“A nossa maior glória não é nunca cair, mas levantarmo-nos de cada vez que caímos.”
Confúcio
Na atualidade é muito comum surgirem situações imprevistas e inéditas, em que se sucedem exigências cada vez maiores. Nestes contextos, ou se sabe sobreviver e recuperar o equilíbrio na instabilidade existente ou se sucumbe às contrariedades. Segundo o Dicionário da Língua Portuguesa, resiliência de carácter é a habilidade de voltar rapidamente para o seu habitual estado de saúde ou de espírito, depois de passar por dificuldades.
Boris Cyrulnik define resiliência da seguinte forma: uma pérola é o resultado da reacção da ostra à agressão de um grão de areia. Tal como a ostra tem a capacidade de transformar um áspero grão de areia em algo valioso, também o ser humano perante um acontecimento marcante e sofrido, poderá descobrir capacidades que desconhecia e revelar uma enorme força perante situações que à partida só poderiam conduzir à fraqueza. Perante um trauma ou um choque, seja ele provocado por uma catástrofe da natureza ou em consequência da violência humana, é possível que o indivíduo reaja de duas maneiras: ou se torna vítima, ficando com dificuldades de adaptação e com patologias psíquicas ou se torna resiliente. A resiliência é a capacidade de correr contra ventos e marés e de saber lidar com a adversidade.
A resiliência é como um elástico que poderá ser esticado quase até à sua rotura e uma vez ultrapassada a situação anterior, está apto para regressar à sua forma inicial. Assim a pessoa ganha segurança para ultrapassar obstáculos, procurar novas experiências, saber mais sobre si próprio e ligar-se de forma mais forte aos outros.
O conceito de resiliência teve origem na engenharia, mas tem sido explorado pela psicologia, que o define como a capacidade do indivíduo resistir às dificuldades.
Em termos de engenharia, este conceito consiste na capacidade de resistência dos materiais à adversidade. Na física, é a propriedade pela qual a energia é armazenada num corpo deformado e devolvida, quando cessa a tensão causadora duma deformação elástica. E em psicologia, este termo aparece ligado ao conceito de traumatismo psíquico e aos recursos internos que permitem ultrapassar um determinado acontecimento traumatizante (guerra, doença, morte de um familiar, agressões físicas, etc.).
Vários autores têm estudado a resiliência e todos concordam que esta é constituída por três factores:
Capacidade que permite enfrentar
adversidades de forma positiva
| Capacidade que envolve ativamente
mecanismos de proteção
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Faz parte de um processo evolutivo que pode ser
promovido em todas as fases do ciclo vital
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Algumas das aplicações da resiliência num indivíduo são as seguintes:
Reencontrar um novo sentido para a vida, estar recetivo a novas experiências e poder atingir novos desafios
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Superar as consequências decorrentes de acontecimentos traumáticos na infância ou na adolescência: lutos violentos, divórcio dos pais, doenças do próprio ou de alguém próximo, maus-tratos, etc.
| Vencer dificuldades comuns do dia-a-dia: desentendimentos com amigos, familiares ou com o "chefe", uma despesa imprevista, etc. |
“Resiliência e invulnerabilidade não são termos equivalentes”.
Zimmerman e Arunkumar
Poderá considerar-se a resiliência uma combinação de factores que propiciam condições para enfrentar e superar as adversidades. Este êxito irá depender dos traços da personalidade, das relações sociofamiliares e dos factores culturais do indivíduo. Para Boris Cyrulnik, a reação perante as agressões externas dependem essencialmente de três factores: aquisição de recursos interiores desde os primeiros anos de vida, a forma como o trauma é assimilado e os suportes institucionais que servem como apoio. Assim, a alegria, a empatia, a força interior e a competência social são muito importantes na construção da resiliência e adaptação a situações adversas.
Então o que explica que perante os mesmos acontecimentos, algumas pessoas consigam ultrapassá-los e outras ficam aprisionados com eles? Segundo Marie Anaut, o indivíduo resiliente concilia três características: bom desenvolvimento da auto-estima, aptidão para encontrar aspectos positivos face aos problemas e possibilidade de se apoiar em experiências pessoais, familiares ou sociais positivas. Também um bom quociente de inteligência, autonomia, eficácia, empatia, adaptação, sentido de humor, capacidade de planificação e de percecionar o próprio valor são alguns dos traços identificados em indivíduos resilientes.
Pessoas resilientes:
Usam os recursos internos para lidar com os acontecimentos negativos, sem se sentirem mal (chegar atrasado a uma reunião importante, argumentar com o chefe, etc.)
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Pessoas não resilientes:
Esperam que alguém defina as regras e que lhe transmita o que fazer. Este tipo de comportamentos gera uma motivação superficial e os resultados do seu trabalho tendem a ser uma resposta às solicitações dos outros.
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Poderemos converter os traumas e o sofrimento em motor de vida. A melhor altura para um indivíduo começar a ser resiliente é quando está perante uma situação difícil. As pessoas resilientes possuem algumas características:
Relações afetivas satisfatórias;
Êxito profissional;
Possuem hobbies e formas para si agradáveis de ocupar os seus tempos livres;
Cuidam bem de si próprias;
Acreditam num futuro promissor.
ESTRATÉGIAS E FERRAMENTAS PARA UMA BOA RESILIÊNCIA
Aceitar: é essencial aceitar o acontecimento negativo e focar-se no que pode mudar.
Dar tempo: para existir uma cicatrização é necessário passar por uma fase de luto
Envolver-se: o apoio dos outros é muito importante. Cultive e envolva-se nas relações sociais e familiares e tente não os “contagiar” com a sua dor e frustração
Mudar de perspetiva: mude a forma de lidar com os acontecimentos marcantes, encarando o futuro como uma fase que será mais positiva. Não fuja às decisões e estabeleça objetivos
Ser positivo: a adversidade poderá contribuir para o desenvolvimento pessoal. Terá que acreditar em si e nas suas capacidades, mantendo uma atitude positiva.
Reencontrar-se: pense em si e no que realmente precisa e envolva-se em atividades que lhe darão prazer
“Ninguém jamais alcança um sucesso muito notável simplesmente a fazer o que se exige dele. É o grau de excelência do que está além do exigido que determina a grandeza. A diferença entre o ordinário e o extraordinário é o extra!”
Charles Kendall Adams
COMO SE TORNAR UMA PESSOA RESILIENTE?
Mentalize-se do seu projeto de vida, pois mesmo que não o possa colocar imediatamente em prática, sonhar com ele reduz a ansiedade
Desenvolva confiança em si próprio
Saiba dizer não assertivamente. Comunique de forma clara, concisa e concreta
A prática de exercício físico contribue para a sensação de ânimo e bem-estar
O lar é um ponto de apoio para a recuperação: mantenha-o em harmonia
Ampliar conhecimentos aumenta a autoconfiança. Seja otimista e proactivo
Esteja aberto a novas aprendizagens e oportunidades: entreajuda é importante
Tenha a coragem necessária para assumir riscos
Faça uma separação clara de quem você é do que você faz
Apure o seu sentido de humor
Seja criativo: quebre a rotina
Permita-se sentir dor, recuar e ser flexível quando necessário
E O QUE É A RESILIÊNCIA ORGANIZACIONAL?
É a capacidade que uma organização tem de responder de forma rápida e efectiva a uma mudança que não estava prevista. A resiliência organizacional poderá levar ao desenvolvimento das organizações que conservam estruturas clássicas e localizadas, para estruturas deslocalizadas e centradas nas pessoas, possibilitando-lhes trabalhar a qualquer hora em qualquer lugar.
Todas as organizações que tem como objectivo ter sucesso numa época de desafios, incertezas e pressões económicas, sociais e tecnológicas necessitam ser resilientes.
Uma organização resiliente possui algumas características próprias:
Flexibilidade;
Responsabilidade;
Proatividade;
Resistência ao stress;
Estrutura baseada no conhecimento;
Capacidade de adaptação;
Capacidade de recomeçar quando os resultados não são os esperados;
Rapidez na resposta a novas situações.
Autor: Cátia Pereira Garcia
Revisão: Isabel Gonçalves e Lúcia Coelho
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