O TOBLERONE NA ESCOLA
Sou do tempo em que escola significava respeito, organização e afetividade.
Desde bem pequena minha mãe relata que eu queria aprender “os rabisquinhos” (letras). Recordo de ter sempre ao meu lado lápis, papéis, livros, tesoura e uma aquarela daquela de papel.
Minha família sempre procurou nos incentivar a apreciar cultura dos mais diferentes segmentos. Lá em casa a TV era preto e branco, mas havia uma estante formada de tijolos e tábuas repletas de livros acessíveis a todos nós.
A escola. Aos quatro anos minha mãe me matriculou em um colégio particular, comprou material e uniforme. Lá fui eu... no primeiro dia nem olhei para trás, afinal eu iria aprender os “rabisquinhos”. Mas que decepção! Nada deles, apenas brincar e colorir.
Segundo dia, deve ser hoje, minha animação ainda estava em alta e... nada! Consequência? Não queria mais ir àquele lugar. Na minha casa mamãe me mostrava mais sobre os “rabisquinhos” do que na escola.
Comecei a arrumar mil motivos para não voltar lá. Como era longe e minha mãe ainda tinha que arrastar meu irmão de três anos junto, ela acabou desistindo. Não sei se eu como mãe faria isso, mas confesso que ela me deixou muito feliz.
No ano seguinte, escolhi ir para um colégio onde toda a turma da rua freqüentava, o Colégio São José de Campo Grande, no Rio de Janeiro. A princípio acho que já havia perdido a esperança dos “rabiscos”, pois nesse meio tempo minha mãe me mostrava tudo o que eu queria saber, mas tinha a Kombi do Sr. Heraldo e era nela que acontecia a bagunça do trajeto. Que herói esse homem!
Lá eu estudei até a quarta série, quando me mudei para outro bairro bem distante.
No primeiro dia conheci a Tia Marialva, minha primeira professora e futuramente a responsável por me fazer querer ser professora. Ela, finalmente, me mostrou a “luz”, os “rabisquinhos” que aos poucos ganharam forma e me permitiram conhecer, de verdade, o mundo.
Uma escola que hoje seria chamada de tradicional, mas que eu acho que nós, educadores, seríamos mais felizes se usássemos muito daquela linha de ensino, mas isso é para outro momento.
Um fato que não me esqueço foi a única vez que fiquei de castigo na minha vida. Sabe qual o motivo? Uma caixa de Toblerone – VAZIA!
Meu avó tinha ido a São Paulo e me trouxe como presente, um chocolate. É... Antigamente era assim, chocolate era presente. O carinho valia mais que o valor monetário do presente, e Toblerone era um chocolate para lá de especial.
Levei dias saboreando cada triângulo e levei como lanche o último pedaço. Não é que um amigo pegou minha caixa? Que petulância!!! Ela seria guardada em minha caixinha de lembranças, até hoje tenho uma onde guardo até ingresso de cinema de momentos especiais. Briguei com ele lógico! Minha professora ouviu e nos colocou em pé, virados para a parede. Ai, ai... Que vergonha aquilo! Mas isso nos fazia conhecer o respeito, entender que ao fazer algo errado a punição seria conseqüência e que nossa professora era sim, uma autoridade e a ela nos cabia obedecer, pois ela sabia o que estava fazendo.
Não faz tanto tempo, mas como mãe, educadora e cidadã acho que esses eram tempos muito mais divertidos, mais felizes, onde não precisava ensinar o que é respeito, nossa aula de filosofia era a vivencia de todos os dias de um grupo que precisava manter-se junto, com suas diferenças sim, mas com RESPEITO que pequenas coisas e gestos tinham um valor impublicável.